❝i am-
many---
things.

❝A trajetória de uma mulher, não de uma personagem ou de uma fantasia.❞

welcome to l.a. jungle


Nunca consegui decidir por onde começo, e sempre me incentivaram que “do começo” é o ideal, mas .qual foi o ponto inicial, crucial, que acarretou a série de eventos caóticos que me trouxeram até aqui?. Como abusar da teoria psicanalista para justificar que meus comportamentos e escolhas são resultados de ideias plantadas em meu subconsciente, o que não me faz menos responsável, mas talvez persuadida, engolida por esse gigantesco estômago de consumação massiva e obsessão. Corra atrás de seus sonhos; tente, agarre, insista, morda, vença. Quando nos tornamos essa selva? Quando decidimos que deveríamos destruir um ao outro?Pois bem, aqui estou.

Uma vez li sobre a problemática de autores que assumem a posição de Deus ao contar suas histórias, e como o olhar onipresente se torna muito benevolente para justificar suas tendências e expor suas mais íntimas essências. Mas não posso fazer isso. Não sou Deus. Eu sou apenas eu. Essa é .minha história., portanto, para mim, a mais importante que qualquer outra. A trajetória de uma mulher, não de uma personagem ou de uma fantasia. Não há ordem ou coerência que justifique meus atos ou o rumo que tomou minha vida, nem uma grande lição ou redenção no final do caminho. Sendo assim, não prometo nada além da minha visão indulgente sobre mim mesma.Sempre fui uma criança criativa e extravagante, e sempre tive uma inerente compulsão por ser .vista, notada e reconhecida., de modo imperativo ou não. A primeira palavra que aprendi a falar foi dame, que em espanhol significa “me dê”. Não foi papa, nem mama, mas dame. O que é comum para a maioria dos bebês quando descobre que essa palavra tem o poder de conceder tudo o que eles querem. Basta esticar a mãozinha, abrir e fechar os dedinhos contra a palma, e falar “dame”. Não há problema algum, até então. É só um bebê que quer coisas. O problema, na verdade, cresce junto aos ideais e aos impulsos violentos que as proporções dessa autoridade podem assumir.

❝O problema, na verdade, cresce junto aos ideais e aos impulsos violentos que as proporções dessa autoridade podem assumir❞

Em Cuba, eu quase fui agraciada com a sorte de viver em Havana, centro histórico e principal sede para a maioria das doações estrangeiras durante a crise econômica. Mas logo após meu nascimento, meus pais se mudaram para uma pequena cidade na província de Mayabeque por conta da competitividade de emprego na capital. A resolução dessa escolha foi que cresci em meio ao racionamento de alimentos, escassez de combustível e apagões de eletricidade por conta dos ecos do El Período Especial en Tiempos de Paz, e com certeza .nunca conheci o significado de conforto ou privilégio em minha pobre existência.. Talvez por isso eu dedicasse tanto do meu tempo presa na minha própria mente, recriando outras realidades onde eu era a Cecilia, a Verena ou a Constance: a doce mocinha que se torna fruto de paixão do rapaz perfeito, a vilã sensual que usa decotes baixos e ameaça suas vítimas com venenos, a sábia anciã que se ostenta no papel de vidente ao saber o destino de todos que a cercam. Cada uma delas presa naquela TV, e em mim.Eventualmente, meus pais conseguiram ser influentes perante a crise econômica do país. Isso nos concedeu alguns de tais privilégios, mas aqui falo de privilégios que seriam muito comuns para os outros, como o direito de ir e vir, água potável e remédios. Nem ao menos havia internet ou qualquer conteúdo de mídia estrangeira para alimentar o intelecto cultural, .nada que me apresentasse o mundo para além da costa árida daquele deserto insular..

Aos doze, ingressei no colégio de artes, e ao invés de explicar a enfadonha trajetória de descoberta, dedicação e ascensão, eu pulo imediatamente para os meus 14 anos, quando fui “expulsa” da escola por conseguir um papel importante em um filme de baixo orçamento, e por conta disso concluíram que eu não conseguiria conciliar com as aulas. No entanto, apesar dos meus incomensuráveis esforços pelo papel, fui obrigada a infringir o fracasso de alguém que me foi uma amiga querida durante todos aqueles anos.

Não faço entender bem essa breve fase comprimida e esmagada no canto de minhas memórias. A questão é que a maioria das garotas da minha idade, naquela época, já tinham o corpo bem amadurecido: seios fartos, bunda empinada e cintura fina, mais 1,70 de altura e unhas longas, vermelhas. Eu nunca fui estonteante como minha melhor amiga Carolina. Minha altura havia travado em 1 metro e 65 — uma altura ingrata, que não te faz ser pequena e fofa, e nem te faz ser deslumbrante —, eu precisava usar sutiã de bojo para realçar os seios, barriga para dentro, costas arqueadas para parecer que era mais curvilínea do que realmente era; de modo muito irritante .eu conseguia ser mediana em absolutamente tudo, menos na minha disposição à entrega — eu faria qualquer absurdo.. E é claro que o corpo esbelto e maduro para a pouca idade conquistava a atenção de olheiros e recrutadores. Uma atenção que eu não conseguia alcançar e, com isso, nem ao menos tinha a oportunidade de mostrar o meu potencial.É claro que ela ganharia o papel para aquele filme medíocre com seu talento mesquinho, mas ela esbanjava charme, então ninguém se importava com a quantidade de vezes que ela errasse as falas, ou em como suas expressões eram mecânicas e inconsistentes.Era ela ou eu, e eu definitivamente não estava disposta a permanecer presa em Cuba por mais um ano sequer, então aprendi pela primeira vez o que algumas doses de hidróxido de amônio eram capazes de fazer… Mais intrinsecamente, .eu sabia que aquela não era a primeira vez, e nem seria a última.. Comicamente, sempre tive algum talento para química.Garanti meu bilhete para o estrelato e nada poderia ser mais importante que isso. Eu disse, minha história era mais importante do que qualquer outra, e se eu não tivesse escrito com meus próprios punhos, não estaria aqui para contá-la de maneira tão altiva. Sei que minha vocação sempre foi inegável, sou vaidosa e categórica, mas nunca fui a única melhor no que eu fazia e tragicamente recorria a métodos pouco profissionais, mas .indiscutivelmente artísticos., para conseguir uma posição de meu interesse.

❝[...] cada vez mais eu entendia que nada daquilo era sobre o que eu queria, mas o que os outros queriam de mim, e eu precisava, acima de tudo, fazê-los me querer para eu ter o que eu queria❞

Aos 18, já morando com meus avós em Madrid há dois anos, eu aprendi que .talento pode ser resumido em sua inclinação para a nudez., mas se tiver ambas as armas e souber como usá-las, talvez consiga algo a mais. Ser atriz não era apenas atuar, era mostrar, expor, revelar, instigar, atrair, excitar… É estar disposta a aceitar convites que você não quer aceitar, sair com pessoas que você não quer sair. E a falsa liberdade da maioridade me servia isso em uma bandeja de prata pútrida. A medida que eu amadurecia, se tornava muito fácil para mim reconhecer e agir conforme as verdadeiras intenções de meu interlocutor, e assim, cada vez mais eu entendia que nada daquilo era sobre o que eu queria, mas o que os outros queriam de mim, e eu precisava, acima de tudo, fazê-los me querer para eu ter o que eu queria. .Essa é a ferocidade da fama.. Era sobre as pessoas que eu precisava tirar do meu caminho para chegar até lá, sem medir a dimensão de minhas contravenções ou a integridade de meus princípios morais.Me construí em um roteiro onde eu pudesse, de novo e de novo, interpretar em frente às câmeras ou aos olhares críticos, a mulher que eles esperavam que eu fosse, com o frescor no rosto de bochechas rosadas, o brilho nos olhos verdes e o sorriso fácil. Tanto quanto o corpo esbelto, a desenvoltura, a sensualidade, a autenticidade. “Você não é como as outras garotas, você é especial”. Aqui você não é reconhecido por seu talento; .fama se faz com fama, dinheiro se faz com dinheiro.. E de onde uma atriz cubana — que trabalhava nos fundos de uma lanchonete para sobreviver na selva de Los Angeles — conseguiu tudo isso sem ter nada disso? A resposta foi fácil para os pequenos tabloides. Eu estaria dormindo em sofás, estaria me sustentando com “party favors” e dando nó em hastes de cerejas.

Ana Castillo nunca foi eu mesma, mas um fragmento, uma quebra, aquela que viria se tornar a mais nova queridinha latina de Hollywood nos próximos anos. Magdalena logo seria engolida a cada pílula, grito e choro, quando não soubesse mais distinguir o quanto a outra de si era real ou não. Apesar de os anos terem custado muito de minha sanidade para saber gerenciar .quando aprisionar uma e quando libertar outra., encontrei conforto em saber que até hoje sei como brincar de recriar minhas realidades; eu poderia ser miserável durante a noite e uma deusa durante o dia, mas .nunca ambas ao mesmo tempo, nunca inteira e concisa.. Eu poderia me fatiar enquanto era Magdalena. Mas no dia seguinte, Ana usaria curativos para disfarçar, mangas compridas. Ana usaria maquiagem para cobrir as marcas dos hematomas e das mordidas. Ana era perfeita, seus lábios seriam vermelhos, seus olhos seriam brilhantes, suas unhas bem feitas. Magdalena era uma bagunça, lábios secos, olhos molhados, unhas roídas. Ana sorria, acenava, fascinava, Ana era .magnífica.. Magdalena morria, esbravejava, alienava, Magdalena era .improlífica..Entre todas as Anas e todas as Magdalenas que fui e sigo sendo, tenho em mim caminhos bifurcados até o abismo de mim mesma. Nunca me permiti a corrupção do que eu ainda era em essência, mesmo amarrada por mãos gananciosas e afiadas que ditavam regras de um jogo sujo que eu estava disposta a vencer. Eles nunca conseguiram me tirar de mim. E mesmo sendo tantas delas, Anas e Magdalenas, infinitamente se expandindo como galáxias e consumindo qualquer um ou coisa que esteja gravitacionalmente ligado a elas, ainda sempre serei um conjunto de interpretações limitadas sob os olhos daqueles que assistem e nunca veem.


Em inúmeras maneiras eu poderia resumir a saga desse relacionamento… Pois bem, o início foi simples: nos conhecemos em 2007 e, naquele momento, ele era um rapaz inviável para mim, mais velho, mais bonito, mais inteligente — nesse conceito. Embora meu coraçãozinho já nutrisse alguma paixonite adolescente desde a primeira vez que o vi, escrevia sobre ele no meu diário e cismei que iria me casar com ele um dia. Porém, cresci, e eu, quem ele chegou a enxergar como criança, havia amadurecido. Juntos descobrimos um apreço muito peculiar um pelo outro, inicialmente de modo intelectual e comunicativo, até evoluir a um apropriado namoro. Ele foi meu primeiro e, com maior ênfase, o meu único e último namorado. Nos comprometemos com um noivado, anos depois nos casamos e, enquanto estas palavras lhes escrevo, esperamos pelo nosso primogênito. Ele foi e continua sendo o meu primeiro Amor, no sentido mais pleno que o Amor pode compreender. E será, por sete ou nove eternidades, ou mais. Esta é nossa história. Se já desvendou tudo que desejara, a sua leitura pode encerrar aqui.Mas, se deseja maior pormenorização e polidez de minha parte, fique mais um pouco. Só me sinto na obrigação de alertá-lo quanto antes: estou prestes a soar tão patética quanto uma adolescente deve ser diante o êxtase do triunfo desse primeiro amor. Se paixão não o arrebata ou jamais o arrebatou, talvez revire os olhos de tédio. Entretanto, pelo menos eu fiz o meu papel de informar, e adianto que não te iludirei a acreditar que essa seria uma história cheia de reviravoltas ou filosofias, é só a história do amor da minha vida.Já revirou os olhos, foi? Então já tem a essência do meu relato.

Me lembro muito bem da sensação estranha que senti a primeira vez que o vi. Aquele calafrio que sobe por trás da cabeça e a breve perda dos modos coerentes. Nunca havia visto olhos tão azuis ou cabelos tão bagunçados; talvez fosse consequência do meu assombro. Lembro das maçãs do seu rosto rosadas de sol e um sorriso diferente de qualquer outro que eu já testemunhei — ele fazia algo com as sobrancelhas quando ria, e seus olhos sempre se encolhiam, sorrindo junto. Ele era irritantemente bonito. Sempre foi, só que hoje menos irritantemente por conta de minha adaptação.A primeira vista, me apaixonei por ele como qualquer menina que se apaixonaria por aqueles modelos de revista: de modo obcecado, mas conscientemente distante, com fantasias dignas dos contos de fadas mais clichês, mas sabendo dos limites impossíveis. A diferença era que ele não era como os modelos das revistas, não tinha o corte de cabelo da moda, nem usava calças com números menores do que ele deveria vestir. Ele tinha um vocabulário que me deixava constantemente zonza, era eloquente demais, categórico demais, atencioso demais, e, acima de tudo, ele não era distante o suficiente para eu nutrir uma obsessão adolescente de forma unilateral, saudável e passageira. Hoje é extremamente engraçado pensar nisso.Nesse primeiro encontro, ele também escreveu para mim um poema que eu jamais imaginei que de fato fosse para mim, na época. Julguei que sua inspiração tivesse sido motivada por alguma atriz Hollywoodiana, quando contei meus sonhos prematuros sobre ser uma delas. Que fosse a Angelina Jolie, a Penélope Cruz ou a Natalie Portman a musa de suas palavras tão oníricas, mas não para mim. Era fácil acreditar até que ele tivesse algum complexo de príncipe encantado, desses que derramam charme à toa, escrevem poemas e músicas à toa, arrancam suspiros de forma ainda mais à toa, e que te deixa "chutando pedrinhas", mas à toa.

O jeito que ele se aproximou de mim foi, de todo modo, muito estranho e muito específico. E minha maneira de aceitar sua aproximação foi ainda mais torta e esquisita do que se pode descrever. É certo que em dado momento eu deixei de parecer tão menina aos olhos dele; de um ano para outro eu amadureci significativamente e isso não passou despercebido, por ninguém. A princípio, ele assumiu muito bem o comportamento de um amigo "superprotetor", com métodos extremamente passivos-mas-quase-nunca-agressivos. Com uma lábia surreal para afastar de mim qualquer outra pessoa com qualquer interesse romântico que não fosse ele. E nem era como se ele precisasse se esforçar, aquela paixonite ridícula ainda formigava dentro do meu peito como um ninho de vespas — tão agonizante quanto, porque por muito tempo não tive certeza do que ele sentia. Acho que ele também não.No período que se estendeu entre aquela primavera e o inverno, nós trocamos mensagens de texto todos os dias. Fielmente, religiosamente, todos os dias. Muita das vezes dormíamos ainda em chamada. Mesmo durante os períodos mais exigentes de nossas rotinas, a gente dava um jeito de mandar mensagem ou ligar, mesmo que de madrugada. Compartilhávamos segredos, contos, poemas. Tecíamos assuntos por horas a fio, salpicados de brincadeiras disfarçadas de flertes, e flertes disfarçados de brincadeiras. Apesar de nem sempre ser brincadeira de minha parte… Mas eu acreditava que seria comum que ele agisse assim com qualquer garota. Quem não acharia?Eventualmente, no encontro após esse período de conexão à distância, eu me declarei para ele. Meu monólogo longo e desesperado aconteceu na sacada da cobertura de um amigo em comum, durante uma festa, após horas de sufoco e sofrimento, graças a algumas doses descuidadas de vodca e tequila em bebidas que me serviram sem álcool. Eu estava bêbada o suficiente para ser corajosa ou estúpida. E fui os dois, claro. Eu disse para ele tudo o que sentia, e disse até o que não sentia para me fingir de madura caso ele acabasse só por achar graça e me responder com um “vai passar”. Mas ao invés disso, ele não falou nada. Ele só me encarou, imóvel, quase inexpressivo. Aquela também foi a primeira vez que entendi que eu era capaz de deixar um poeta sem palavras… Nosso primeiro beijo teve sabor de limão, hortelã e tequila. E assim, sem muito mais e nem muito menos, estávamos namorando.

Também poderia concluir bem aqui, mas não é apenas de momentos bons e bonitos que se estrutura uma história, do mesmo modo que alegria não é feita só de sorrisos, flores não são feitas só de pétalas, céu não é feito só de azul, e por aí vai diversas analogias que se pode aplicar a dualidade de tudo o que nos é formidável. Embora pudesse escrever uns 13 livros sobre esses momentos incríveis.Assim que completei 18 anos, e o assumi publicamente como namorado, muitas pessoas julgaram minha precipitação e, por parte da mídia, houve tentativas incisivas de sabotar nosso relacionamento pelo bem da produção de alguns projetos que envolvessem pares românticos. Foi um período incômodo, mas nada que tenha nos abalado de verdade, graças a maturidade mental dele e sua incrível habilidade de não se importar com todos os tipos de inconveniências. Sua única preocupação era que eu não ficasse maluca no processo.É nesse ponto que eu queria chegar, aliás. Pode soar como a coisa mais errada dizer o quanto eu fui emocionalmente dependente dele durante todo aquele tempo que morei em Los Angeles. Na época eu não pensava nisso, mas não consigo imaginar o quão difícil foi para ele lidar com as catástrofes de minha mente enquanto eu tentava sobreviver à ascensão dentro daquela selva. E quando pergunto sobre, ele diz que não tem nada a reclamar, que ele só estava cuidando do que escolheu amar por sua vida toda.

Ele sempre fez as coisas parecerem muito simples sem fazer com que elas parecessem banais. Nunca fez sacrifícios ou esforço algum, de modo que sua entrega sempre foi muito natural e veemente entre incansáveis afirmações. "Eu amo você", "eu estou com você", "eu sempre vou estar", "e sempre vou te amar". Mesmo com ele morando nos confins da Europa e eu na beira da América, ele sempre foi meu porto seguro. Isso soa dolorosamente clichê, mas ele sempre foi, de verdade, a única luz no meio do meu caos mais obscuro, meu único refúgio. Sempre foi o primeiro para quem eu ligava para dar boas notícias ou más notícias, para compartilhar um riso, para entregar um choro, para comemorar, para desabafar. E ele, do lado de lá, sempre sabendo mais de mim do que eu mesma, preservando minha essência e autenticidade para que eu jamais me perdesse da menina que fui e da mulher que eu deveria ser.

No meio de todo aquele malabarismo que eu fazia com uma mão só para manter meu equilíbrio entre coração, mente e sonho, minha outra mão sempre se manteve entrelaçada a única pessoa que realmente importava. Foi assim, entre outros infinitos motivos e devoções, que ele me pediu em casamento de verdade. Assim, à toa. Sem tons de brincadeira, sem poesias soltas, sem impulsos. Ou talvez eu possa dizer que ele nem pediu, ele só anunciou que eu estaria casando com ele quando eu despertei certa manhã de janeiro, em 2017, com o anel em meu dedo.Nosso casamento foi concretizado no sublime 13 de maio daquele mesmo ano, em um castelo toscano, adornado a cravos e crisântemos por solicitação minha, que quis demais competir com o encanto daquela primavera ao escolher meu vestido. Fomos testemunhados por familiares e amigos muito próximo, em uma cerimônia reservada e boêmia. Eu jamais poderia discorrer em palavras tudo o que senti naquele dia, mas ainda guardo as reminiscências daquelas sensações em meu peito. Ainda olho para ele com o mesmo fascínio ao me dar conta de que é meu marido e, acima de tudo, sempre foi somente meu. Lembro da sensação de plenitude de que tudo parecia certo e no lugar, que eu não tinha mais para onde ir, tudo o que eu queria e precisava estava ali. Eu estava me casando com o único e eterno amor da minha vida. Nas palavras trocadas e na imersão de nossos olhares, não trocamos apenas votos — a promessa de um futuro —, mas selamos nossos destinos meticulosamente orquestrados em um pacto eterno, a confirmação, sob as leis dos céus e dos homens, que éramos almas destinadas a ser uma só.

Eu não consigo imaginar nenhum pedacinho da minha vida sem ele ao meu lado. Não consigo imaginar um mundo onde eu e ele não sejamos um só, o que me traz a não tão estranha sensação de que essa não seja nem a nossa primeira vida juntos. Parece que estivemos aqui desde que mundo é mundo, porque eu nunca vou conseguir descrever em palavras ou analogias o quanto tudo parece simplesmente em seu devido lugar quando estou com ele. E estou com ele desde… toda minha eternidade. Mal vejo a hora de construir outras eternidades junto a ele.